Mais uma vez o povo Português é chamado a dar a sua opinião sobre um tema que tem sido tão discutido de há 8 anos para cá: a Despenalização da Interrupção da Gravidez.
Sim, é esta a forma correcta de tratar este assunto. Ninguém anda a promover o aborto por aí, ao contrário do que alguns dizem.
O facto de votar SIM, não obriga ninguém a fazer um aborto.
Votar Sim despenaliza quem o pratica, as Mulheres, mas ao mesmo tempo leva a que elas tenham um acompanhamento em que optem por interromper a gravidez, até ao dia em que o mesmo suceda. E nesse acompanhamento, muitas irão repensar e ter o(s) seu(s) filho(s). No entanto, se decidirem efectivamente em fazê-lo, têm ao seu dispor os meios médicos necessários.
Mas, então isso não será uma forma de gastar o dinheiro dos nossos impostos?
Vejamos então o que se passa hoje.
Quem quer interromper a gravidez, se tiver dinheiro, vai a uma clínica, em Portugal ou noutro país, e tem todo o apoio médico.
Quem não tem, recorre ao “vão de escada”, em que não existe qualquer tipo de assistência médica. O que acontece? Se depois houver complicações, as mulheres recorrem ás urgências dos hospitais, onde irão tirar ocupar o lugar de pacientes, aumentando o tempo de socorro e assistência a outras urgências.
O que achavam se estivessem numa urgência e à vossa frente estivesse um caso desses? Bem, se o Não vencer, pode muito bem acontecer...
Bagão Félix, Ex-Ministro da Segurança Social, responsável pelas novas leis do trabalho, é um grande defensor do Não. Defende os valores familiares. Aparentemente, uma pessoa séria. Mas será mesmo assim? Ou será um rosto que espelha uma realidade que muitos querem esconder?
Passo a explicar. Quando foi ministro fez aprovar a nova Lei do Trabalho, que permite que a entidade empregadora possa exigir a quem contrata, neste caso as mulheres, que não podem engravidar nos anos seguintes, sobe pena de perderem o emprego. Então e se isso acontecer? Imaginemos um casal, que está a começar a sua vida, construindo uma família. Mas, só por causa de alguém que vem defender a vida e a família em público, não vão poder ter essa família tão desejada?!? E se a mulher engravidar? Bom, aí a mulher tem duas hipóteses. Ou tem o filho e perde o emprego, ou então interrompe a gravidez.
Afinal, onde está a moral? Será que aqueles que defendem o Sim, e querem resolver um problema da própria sociedade, ou aqueles que defendem o Não, querem continuar a esconder um problema que também eles são responsáveis?
Ah, e depois vêm dizer que se pode descriminalizar as mulheres sem alterar uma lei que considera esse acto, a IVG, um crime?
Qualquer crime tem uma pena. Ou se altera a lei, como é proposto neste referendo, e se deixa de considerar a IVG um crime, ou se continua numa atitude de pura hipocrisia, que vai continuar a atirar as mulheres para o “vão de escada”.
Bagão Félix é um excelente exemplo dos que dizem uma coisa, mas que depois fazem exactamente o oposto, contribuindo para este clima medíocre e de hipocrisia que a nossa sociedade vive.
Quem defende o Não, pode e deve, depois do referendo, criar formas sérias de promover a natalidade, de ajudar quem precisa, para que essas mulheres possam ter os seus filhos com dignidade. Essa sim será a grande vitória da Vida.
Chega de tentar esconder os problemas. Vamos resolvê-los.
Nuno Baptista